Unidos para sempre

“Antes de terminar, desejo dizer a Vossa Excelência, desembargador Francisco de Figueiredo, nosso 40º presidente, que não vimos aqui para transformar este valioso presente como espécie de cabide de chuteiras, mas sim fazer dele um lugar vivo, palpitante, onde possamos nos unir para sempre. Que tal o escudo com o emblema “Unidos para Sempre?”

Nas palavras finais de seu discurso, em maio de 1996, revelava-se a grande emoção do Doutor Raul Motta Moreira, terceiro servidor da Justiça Eleitoral mineira após sua reinstalação, em 1945, na cerimônia de inauguração da Sala do Servidor Aposentado, no segundo andar da antiga sede do TRE mineiro, na Avenida Prudente de Morais, 320, em Belo Horizonte.

Ainda por esses dias deparei-me com o livro de frequência dos primeiros funcionários do Tribunal e lá estava a assinatura do Dr. Raul, desenhada a caneta-tinteiro, um registro que serve para ficar na memória de todos nós, juntamente com as assinaturas dos outros cinco colegas empossados àquela época. E fico a imaginar o que se passava no coração daqueles desbravadores eleitorais quando se reuniam para prosas e versos.

“Sou, talvez, o mais carregado dessas lembranças dentre os presentes, creio. Vivi o pesadelo da guerra, prestes a ser convocado; vi a queda do totalitarismo e assisti à aurora da liberdade. Com a Lei Constitucional nº 9/1945 foi reinstalada a Justiça Eleitoral, cujas atividades se iniciaram em junho daquele ano. Aqui preparamos o alistamento de todo o estado, cuidamos da realização das eleições nas 157 zonas em que se dividia nossa circunscrição, tudo isso em seis meses”, recorda Raul Motta Moreira, também no discurso dele.

Cabia muito bem a ele e aos demais colegas pioneiros do Tribunal a alcunha de “bandeirantes”, mesmo, pois as eleições de 1945, com tremendas dificuldades, foi uma verdadeira novidade após o longo regime ditatorial do Estado Novo. “No dia da votação, muita chuva com várias cidades inundadas, pontes caídas, estradas de terra, o telefone era um suplício; mesmo assim, não vi qualquer reclamação contra os servidores deste Tribunal, por mais improvisado fosse o trabalho; ganhamos experiência, e justo é, pois, lembrar, de memória, o nome de nossos primeiros colegas, dos quais nunca me esqueci”.

Por um instante, esforço-me para desenhar, 20 anos atrás, a figura pequena de cabelos brancos e voz emocionada, diante dos dirigentes da Casa e dos próprios colegas, em frente ao espaço que tanto sonhou: “De início, invocando as graças de Deus, ao dizer estar realizando hoje um sonho guardado há quase dois anos, e a Portaria 226/1996, que cristaliza esse sonho, traduz os reais objetivos a que se propôs: a integração dos servidores do Tribunal com a participação dos aposentados; a fruição da experiência aurida da vivência dos servidores inativos, o que, inequivocadamente, redundará em benefícios a todos, certamente”.

Dr. Raul Motta Moreira foi Diretor-Geral do TRE-MG por duas gestões: de 1959 a 1962 e de 1975 a 1976. Advogado, escritor e poeta, é autor de vários livros técnicos e literários. Em 2007, recebeu a Medalha do Mérito Eleitoral “Vaz de Melo” por sua imensa e inesquecível contribuição ao desenvolvimento e engrandecimento da Justiça Eleitoral em Minas Gerais.


Texto: José Luís Cantanhêde