Memória - uma visão de futuro

                                                                                                                     Maria Berenice Rosa Vieira Sobral*
 

Na antiga Roma, Jano, deus dos começos, era guardião das entradas. Sua imagem era colocada perto da entrada principal das casas. Era representado por uma cabeça ou busto de duas faces, pois sua função era olhar para frente e para trás.

Jano abria cada novo ano (daí o derivativo Janeiro). Com dois rostos, dispostos simetricamente, ele inaugurava as novidades sem desprezar aquelas que haviam se transformado em passado. O recado para nós é claro: a tradição, a experiência, o passado encerram as bases do presente e do futuro. Sem o passado, perdemos o sentido da vida.

Memória é o que identifica, dá nome; certifica a existência, o valor. Memória é vida que se propaga. É movimento, processo, caminhada. É a lembrança de que se vive, pois viver é agir, mas, sobretudo, sonhar. Produzir, no sentido humano, é, acima de tudo, ter atitude humana; é construir algo em comum e para a comunidade.

Em uma instituição, a Memória é um poderoso instrumento de comunicação organizacional. Ao ligar idéias e ações do passado e do presente, ela une o pensar e o agir de pessoas, fundamento e fim de todas as organizações, sejam elas privadas ou públicas.

A memória institucional pode ser entendida como o conjunto das várias memórias, conjunto das várias histórias de vida. Se viver é comunicar, se viver é contar histórias, a Memória torna-se também vida em comunicação. Algo vivo, que não pára, mas que continua em processo de formação, de construção.

Memória e Comunicação tornam-se, assim, parceiras em um mesmo propósito – o de inserir as pessoas e suas histórias particulares na história comum a todos, na história contada por todos. A partir desse princípio de pertencimento, as instituições tornam-se organismos verdadeiramente vivos, dotados de corpo e de “alma”.

A Justiça Eleitoral, instituída em 1932 e reinstalada em 1945, após um período de oito anos de suspensão, celebra duas datas de aniversário no mês de junho: no dia 14, 68 anos de reinstalação e, no dia 30, 81 anos de instalação. Independente do tempo, porém, como em uma família, “nascemos” no TRE-MG quando aqui chegamos. A partir desse momento, nossa história passa a fazer parte de uma grande história, escrita a muitas e muitas mãos, num processo contínuo que beira a eternidade. Continuamos onde outros, antes de nós, terminaram, mas, também como acontece em nossas famílias, herdamos de nossos antepassados pensamentos e técnicas.

Em razão disso, não podemos perder de vista as idéias, as realizações e as histórias dos que vieram antes de nós. Eles nos legaram a estrutura de conhecimento e de práticas que encontramos e que, a nosso tempo, vai sendo ampliada, adaptada, transformada... e legada, uma vez mais, aos que virão depois.

Preservar e divulgar a Memória Institucional não é apenas uma questão de reconhecimento, mas de gestão estratégica. Valorizar o passado significa ter visão de futuro.
 

* Maria Berenice Rosa Vieira Sobral é Técnico Judiciário, Assessora de Cerimonial e Memória Eleitoral da Presidência do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais. Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo – pela Universidade Federal de Minas Gerais e Pós-Graduada em História do Brasil.